domingo, 16 de maio de 2010

Aulas de Circo na Escola

De forma lúdica e divertida, De forma lúdica e divertida, as aulas circenses contribuem para o desenvolvimento dos músculos e do cérebro e ajudam até mesmo a melhorar as notas da criançada.

Ainda na barriga da mãe, elas já dão piruetas. Logo que nascem, são colocadas de cabeça para baixo. E, ao ensaiar os primeiros passos, tropeços e quedas não impedem que se levantem e tentem outra vez. Crianças são, por natureza, aventureiras. Precisam de espaço. Querem correr, tocar, falar, pular. Afinal, através das lentes da ingenuidade e do encantamento, a vida é diversão pura.

O resgate das aulas de circo, nos últimos anos, vem ao encontro dessa busca pueril pelo novo, pelas descobertas. Ironicamente, elas foram recuperadas por adultos, que encontraram na prática circense uma maneira descontraída e menos repetitiva de manter a forma e fortalecer os músculos. Agora, é a vez das escolas se darem conta de que a mistura entre magia e exercícios contribui para o desenvolvimento físico e mental dos pequenos. Está certo que outros esportes proporcionam os mesmos benefícios. Mas, você há de concordar, talvez não com a mesma graça.

BRINCAR É COISA SÉRIA “Em idade pré-escolar, o ideal é uma atividade lúdica e sem competitividade”, recomenda o ortopedista pediátrico Edilson Forlin, do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba. No circo é assim: todo mundo brinca junto e não há vencedores. “Não se trata de um esporte de rendimento. O mais importante é o processo, e não o resultado”, avalia Gilberto Caetano, coordenador das aulas de circo no programa Clube Escola, da Prefeitura de São Paulo.


Andar de monociclo, fazer malabarismo, equilibrar-se no trapézio e até uma simples cambalhota despertam a criatividade, ativam o cérebro, aumentam a consciência corporal e desenvolvem o reflexo, a coordenação, a lateralidade e o ritmo. “Além disso, como existe o desafio da superação, o circo melhora a autoestima e a confiança em si e nos outros”, diz Caetano. Sob a tenda colorida existe ainda um forte aspecto social. Cada um faz a sua parte. Alguns sustentam e seguram, outros voam e se equilibram, e todos esperam a sua vez.

A paulista Lara Herrera Teixeira tem 4 anos e faz circo desde o começo de 2009. “Queríamos que os dias em que ela sai da escolinha mais tarde fossem agradáveis”, conta a mãe, a obstetra Sílvia Herrera. “E hoje ela ama ficar lá.” Prova disso são as gargalhadas da menina ao contar o que faz. “A gente sobe em um castelo, se pendura e depois se joga num colchão bem molinho”, diz. “É muito divertido”, afirma a garota, que não disfarça o orgulho por conseguir executar a cambalhota de costas.


Ela nem desconfia que, no trapézio ou no chão, está adquirindo noções de tempo, espaço e velocidade — conceitos que, mais tarde, serão valiosos para as aulas de física. Segundo a pedagoga Maria Ângela Barbato Carneiro, professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, é possível ainda abordar conteúdos de outras disciplinas. “Em uma conversa sobre o Cirque du Soleil, dá para falar sobre história e geografia”, exemplifica.


No entanto, mais que preparar as crianças para enfrentar determinadas matérias no futuro, as aulas circenses melhoram o desempenho escolar no presente. Quando o paulista Gustavo da Silva Soares Cardoso, de 13 anos, parou de frequentar o circo, sua mãe logo pediu que ele voltasse. É que o ânimo do garoto sentiu falta dos exercícios sob a tenda. “Se não vou às aulas de circo, acordo quase na hora de ir para o colégio, chego lá cansado e não presto atenção”, conta. A prática o deixa mais disposto, e o bem-estar se converte em notas melhores no boletim.

A magia do circo contribui para algo que passa longe do pensamento das crianças: manter a forma. As aulas estimulam o chamado acervo muscular. Em outras palavras, quanto mais diversificado é o histórico de exercícios de uma pessoa, mais fácil será retornar à boa forma lá na frente. Essa, digamos, memória esportiva facilita inclusive a prática de outras atividades — seja na quadra, seja em uma pista de dança. No circo, todos os grupos musculares são trabalhados, muitas vezes, ao mesmo tempo. O malabarismo, por exemplo, exige que os joelhos estejam flexionados, o abdômen fique contraído e os braços, em constante movimento.


“Há um fator psicológico envolvido na atividade física”, acrescenta o ortopedista pediátrico Edilson Forlin. “As crianças têm um metabolismo muito acelerado e precisam gastar energia para conquistar, também, equilíbrio mental”, explica. Tanto suor melhora a concentração, deixa a postura ereta e pode compensar, até certo ponto, aquela alimentação mais calórica do fim de semana.

QUEM NÃO DEVE PRATICAR

É importante ficar alerta às contraindicações. “Crianças com frouxidão dos ligamentos demoram para sentir dores, o que leva a alguns exageros”, avisa Aline Essu, educadora física e coordenadora da Academia Brasileira de Circo. Quem tem labirintite também precisa avaliar bem se vale a pena encarar as acrobacias.

Segundo os profissionais da área, o circo só não é muito recomendado para menores de 4 anos. O melhor, nesse caso, seria se envolver em atividades que exigem menos força e concentração. De qualquer maneira, a pequena Lara se diverte com os amigos e está cada vez mais à vontade. “Ela é menina, filha única, protegida demais. É bom que conviva com outras crianças”, acredita a mãe. Nesse picadeiro cheio de diversão e aprendizado, brincar não é apenas fruto da imaginação.

Fonte: Revista Saúde por Camila Carvas e foto Sílvia Zamboni 

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